Camila com a pequena Pietra nos braços
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Camila com a pequena Pietra nos braços

Dizem que ter um filho é uma verdadeira aventura para a vida toda. Mas para um  casal de Rio Preto , essa aventura foi um pouco mais intensa.

A administradora de empresas Camila Pavan, de 33 anos e o marido, o fisioterapeuta Adriano Garbeline de 36 anos tiveram que ir até o outro lado do mundo para conseguirem ter um filho. Eles viajaram mais de 11 mil quilômetros até a  Ucrânia.

Mas a história teve início em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Camila é portadora de  atrofia muscular espinhal  que é uma doença neuromuscular rara, genética e com manifestações clínicas variáveis. Em diferentes níveis, ela pode causar a disfunção e morte de neurônios motores inferiores, que controlam os músculos responsáveis por atividades como respirar, alimentar-se e andar.

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Por este motivo Camila, já tinha tentado engravidar algumas vezes, mas sem sucesso. Quando conseguiu ela ficou quatro meses em repouso absoluto, mas por descolamento da placenta, a gravidez não foi adiante.

Ela e o marido começaram a pensar em outras possibilidades para terem um filho. A primeira opção foi a adoção . Eles viram como tudo funcionava, mas não queria esperar muito para ter a criança. “Não queria ficar numa fila de espera por nove ou dez anos para ter meu filho”, disse a administradora.

A segunda opção foi a  barriga solidária , que é permitida no Brasil. Na verdade, não há uma lei sobre o tema em vigor no país. O que existe são resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Provimento nº 52/2016 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os dois instrumentos infra legais tratam da chamada gravidez por substituição, que pode ser popularmente chamada de barriga solidária. O próprio termo barriga de aluguel, no Brasil, não deve ser usado, justamente porque o ponto central da Resolução 2121/2015 do CFM, diz que “a doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial”. Como se sabe, o contrato de aluguel pressupõe o pagamento em contrapartida ao usufruto de bem móvel ou imóvel.

A cunhada de Camila foi a barriga solidária, mas também não conseguiu levar a gravidez adiante, já que ela aconteceu nas trompas.

A terceira opção foi recorrer a uma  barriga de aluguel.  Camila e o marido começaram a procurar lugares onde seria possível adotar esta prática. “Olhamos nos Estados Unidos, no México, Tailândia, Ucrânia, entre tantos outros países”.

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Camila seguiu para os Estados Unidos para tentar e só lá descobriu, por um exame de sangue, que sofria de uma outra doença, a  miopatia de Bethlem.  Esta doença é uma forma benigna, autossômica dominante, de distrofia muscular de progressão lenta. O quadro clínico não difere marcadamente das outras formas ligeiras de distrofia muscular, à exceção do desenvolvimento de contraturas nos dedos que são por vezes sugestivas do diagnóstico.

Depois de descobrir esta doença Camila viu que as orientações dos médicos brasileiros iam de encontro a tudo o que os médicos americanos tinham recomendado. Então ela e o marido resolveram dar um tempo em  engravidar  e entender como o corpo dela reagiria a tudo isso.

Passado alguns meses, em abril de 2019, Camila e o marido retornaram a busca por uma barriga de aluguel. E foi na Ucrânia que eles encontraram tudo o que procuravam. A primeira tentativa não deu certo, mas como lá as tentativas eram ilimitadas, eles tentaram uma segunda vez no dia primeiro de outubro, e 15 dias depois tiveram a confirmação. Eles estavam “grávidos” mesmo que recorrendo ao recurso de uma barriga de aluguel.

O casal sabia que o parto estava previsto para junho de 2020. O que eles não contavam era que o mundo enfrentaria uma pandemia e muitas fronteiras estariam fechadas por conta de um vírus.

Eles saíram de Rio Preto no dia 30 de maio. Chegando ao aeroporto internacional, ela descobriu que não poderia embarcar porque faltavam alguns documentos. Eles tinham apenas a carta da Ucrânia. Mas com ajuda dos governos da  Alemanha e da Holanda, ela conseguiu os documentos que precisava e embarcou rumo a Ucrânia. 11 mil quilômetros depois desembarcaram em um país totalmente diferente. Ficaram em quarentena por oito dias, fizeram teste de Covid-19, que deu negativo, e dez dias depois puderam seguir para o hotel que fica junto à clínica de fertilização e onde ocorreria o parto.

Depois de 10 dias, no dia 11 de junho veio ao mundo a pequena Pietra. “Pode vir ao mundo que a mamãe já está aqui para te receber” foi o que pensou Camila quando estava próximo a hora do parto.

Mas depois que a criança nasceu eles teriam que voltar ao Brasil. Com um bebê recém-nascido, sem ter tomado todas as vacinas, como poderiam retornar? Eles então ficaram por 55 dias no hotel da clínica, que é o tempo máximo permitido pela instituição. Depois deste tempo, com os documentos em dias e com a filha nos braços, o casal retornou para São José do Rio Preto.

Camila conta que, depois de  34 horas de viagem, chegando em Rio Preto foi só alegria. Os familiares fizeram teste de Covid-19, que deram negativo, e os três foram acolhidos com muito amor por todos.

O sonho de um filho não foi barato. Camila conta que gastou cerca de 39 mil euros. Em valores de hoje, sairia por cerca de R$ 230 mil.

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